Bom, você acredita naquele momento mágico em que a ideia aparece com um flash? O famoso insight? Você acha que a criatividade vem do nada?
Existe uma lenda que criatividade é um dom, e eu, particularmente, não acredito nisso. Sim, algumas pessoas podem ter mais facilidades que outras, mas nada que esforço e dedicação não resolvam.
Criação é 10% inspiração e 90% transpiração, já ouviu essa frase? Eu acho que é muito verdade. E transpiração, quer dizer trabalho.
Como tudo na vida, você conquista habilidade com o tempo e com a prática. Por exemplo, na faculdade de design aprendemos algumas metodologias e processos que podem ser aplicados para facilitar e induzir a criação. A criatividade pode ser considerada como uma forma de unir duas coisas que não tem nada a ver, de forma a criar uma conexão e correlação entre elas criando um elo antes não percebido, ou não tão óbvio.
Quanto maior o repertório, o vocabulário, os recursos que você tem pra pensar, melhor, fica mais fácil assim conectar uma coisa à outra.
O primeiro passo super importante é se afundar e aprofundar em pesquisas do que te interessa, ou do tema que você quer explorar. Se você não tem isso definido, tudo bem, se alimente do que achar legal, bonito, ou que tem a ver com você.
Buscar o maior número possível de referências, tanto na sua área de pesquisa, no nosso caso a joalheria, como também abrir esse leque para artistas, escritores, arquitetos e outros campos, isso pode ser muito rico.
Conhecer bem o que já existe em relação ao que você se interessa. Porque, para subverter uma técnica, ou qualquer coisa, é preciso entender bem desse assunto para então pensar alternativas de fazer diferente. Afinal de contas fazer igual o que já foi feito, pode não ser tão interessante nesse mundo já tão cheio de coisas materiais. Faz sentido colocar no mundo mais coisa igual?
É sempre bom conhecer o que chamamos de obras análogas, aquelas similares ou que contêm de alguma forma ou conceito ou ideia daquilo que gostaríamos de fazer. Quando fazemos essa pesquisa, podemos até descobrir que alguém já fez o que pensamos, e que aquela ideia não é exatamente inédita.
É uma parte clássica de uma pesquisa de design ir atrás das obras análogas.
A partir dessas obras, é também bem interessante buscar as referências que o criador ou criadora usou para chegar naquela obra. Isso pode enriquecer sua pesquisa, trazendo ainda mais referências.
Afinal de contas, como pensar fora da caixa, se você não sabe o que tem na caixa?
O processo criativo é uma forma de estudar como materializar o raciocínio e estimular sua capacidade de criação, influenciado pela bagagem de cada pessoa e o seu momento ou disponibilidade. Ele traz uma evolução no olhar do criador na construção das formas e ferramentas para a realização do projeto.
A criatividade leva a transformação e a inúmeras possibilidades que podem gerar o caos criativo, necessitando de limites e organização.
Muitas vezes seguimos o instinto e a intuição, outras a sensibilidade de sensações ou imagens cotidianas, em outros ainda se pode fazer uso das tecnologias e planejamento, mas processo criativo não é ciência exata, o jogo entre erros e acertos se faz importante.
Uma mente criativa, estimulada, aberta e livre para percepções, amplia as possibilidades de experimentações e com isso chegar ao projeto certo!
Exercícios e ferramentas para sistematizar o processo criativo:
1. Brainstorming.
Você já pode ter ouvido falar em Brainstorming, literalmente significa tempestade no cérebro, em tradução livre. O brainstorming é uma técnica de criação normalmente coletiva onde as pessoas jogam palavras e ideias sem filtro nenhum, para criar um repertório de ideias em forma de palavras É uma técnica interessante. Depois disso, você pode buscar palavras sinônimos, por exemplo, para trazer mais opções e aumentar a abrangência do exercício.
Outra coisa legal é sempre ter um caderno ou vários cadernos ou um arquivo de notas (para anotar ideias em forma de palavras e também em forma de desenhos, referências de livros, autores ou artistas pra não me esquecer de pesquisar).
Lembre de sempre fazer isso em diferentes momentos, locais, humores e horas do dia. Afinal de contas, quando você está diferente, suas percepções também estão.
2. Geração de Alternativas
É importante a geração de milhões de alternativas, juntamente com a criação de estratégias de classificação, marcando os desenhos que chamam mais atenção. Pedir a opinião de amigos também vale, fazendo uma espécie de votação, para saber a opinião de outras pessoas e entender como a sua opinião é posicionada. Muitas vezes, por exemplo, eu acho bonito o que a maioria das pessoas não acha. Então outra coisa interessante é pensar que não é só porque você não gosta de algo que outra pessoa também não vai gostar. Jogue com isso.
3. Moodboards
Gosto muito de pendurar opções na parede para visualizar melhor, fazer painéis, mood boards e outros tipos de ferramentas visuais, ajuda muito para pessoas que são mais “visuais”.
Utilizar outras ferramentas para manipular suas imagens, xerocar, fotografar de perto, de longe, colocar frente ao espelho, tirar cópia de partes com papel vegetal por exemplo, são boas formas de ver uma mesma coisa por outros ângulos.
4. Abuse das pesquisas!
Busque referências, fazendo pesquisas imagéticas e conceituais, sempre fotografando e arquivando o que te atrai mais, pra criar o seu repertório e quando faltar inspiração você vai ter pra onde recorrer.
Procure ter momentos de total liberdade e outros de imposição de limites e fronteiras, por exemplo, desenhar com os olhos fechados, fazer croquis ou criar algo específico, uma mesma idéia em 5, 10 ou 15 minutos, são alguns exercícios interessantes.
5. Descanse!
Outra coisa é saber se distanciar um pouco das criações, sair de perto, deixar descansar, ou decantar por alguns dias – usar a técnica do “olhar do estrangeiro” que aprendi na faculdade de design. Ver tudo como uma novidade, como um estrangeiro quando chega pela primeira vez numa outra cidade. Não se esqueça que pode experimentar e fazer testes sem medo de errar, afinal de contas um erro pode se tornar um acerto.
6. Maquetes e Mock ups
Faça maquetes, mock ups seja em papel, resina, massinha, sabão, etc. O importante é experimentar as formas em perspectivas e 3D também.
Se familiarize com o local que receberá a peça, a parte do corpo que será a casa da joia, sinta e brinque com seu corpo. É legal pesquisar pra entender sobre a ergonomia, e as relações entre o homem/ espaço e o homem/objeto.
Experimente. Misture. Dissolva. Fatie. Cole. Reúna.
O exercício, a repetição e a dedicação são partes importantes de um fazer consciente e experimental.
E quando os desenhos e os materiais estiverem escolhidos, procure explorar as técnicas. Conheça e entenda a técnica usada para cada material, relacione com os desenhos, encontre pontos de diálogo. Experimente. Aproveitemos a facilidade existente hoje em tirar uma foto, manipular uma imagem no computador, obter uma informação online, para enriquecer e desdobrar o processo.
Eu não disse que seria fácil. Mas posso garantir que vai ser surpreendente e divertido!